Wallestein - 3ª referência

Freud, Sigmund (1996o). Conferências introdutórias sobre psicanálise (partes I e II). In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XV. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1917).

A citação encontra-se em “Conferências introdutórias sobre psicanálise” (1917 [1916-17]), na Conferência II: papraxias, páginas 45-48. Nesta longa passagem, Freud aborda os lapsos da língua e descreve que alguns escritores colocam tais lapsos nas falas de alguns personagens de forma proposital, como se o ato carregasse um sentido. Freud aponta, dessa forma, um exemplo de uma obra de Schiller:

[...] Repetidamente tem acontecido haver um escritor criativo feito uso de um lapso de língua ou de alguma outra parapraxia como meio de produzir um efeito pleno de imaginação. Esse fato isoladamente deve demonstrar-nos que ele considera a parapraxia — o lapso de língua, por exemplo — como possuidora de um sentido, de vez que a produziu deliberadamente. Pois o que sucedeu não foi o autor ter cometido um lapso de escrita acidental e, assim, permitido o uso do mesmo por um de seus personagens, na qualidade de lapso de língua; ele tenciona trazer algo à nossa atenção mediante o lapso de língua, e podemos indagar sobre que algo é esse, se talvez queira sugerir que o personagem em questão esteja distraído e fatigado, ou esteja prestes a ter um ataque de enxaqueca. Se o autor emprega o lapso como se este tivesse um sentido, nós, naturalmente, não temos vontade de exagerar a importância disso. Afinal, um lapso poderia realmente não ter sentido, ser um evento psíquico casual ou poderia ter um sentido apenas em casos bastante raros; contudo, ainda assim o autor teria o direito de intelectualizá-lo fornecendo a ele um sentido, a fim de empregá-lo segundo suas finalidades próprias. E não seria de surpreender se tivéssemos mais a aprender sobre lapsos de língua com escritores criativos, do que com filólogos e psiquiatras.

Um exemplo desse tipo pode ser encontrado em Wallenstein (Piccolomini Ato I, Cena 5), [de Schiller]. Na cena anterior, Max Piccolomini esposou ardentemente a causa do Duque [de Wallenstein] e esteve descrevendo apaixonadamente os benefícios da paz, dos quais se tornou cônscio no decurso de uma viagem enquanto acompanhava a filha de Wallenstein ao campo. Quando ele deixa o palco, seu pai [Octavio] e Questenbergs, o emissário da Corte, estão mergulhados em consternação. A Cena 5 continua:

QUESTENBERG Ai de mim! e continua assim? Como, amigo! deixamo-lo partir Neste delírio — deixá-lo partir? Não chamá-lo de volta imediatamente, [não abrir Seus olhos, sem perda de tempo? OCTAVIO (saindo de uma meditação profunda) Ele vem de abrir meus olhos, E enxergo mais do que me apraz. QUEST. Que é isso? OCT. Amaldiçoem essa viagem! QUEST. Mas, por quê? Que se passa? OCT. Vem, vamos juntos, amigos! Preciso seguir A execrável rota, imediatamente. Meus olhos Agora estão abertos, e devo usá-los. Vem! (Atrai Q. e o leva consigo.) QUEST. Que está havendo? Aonde vais, então!? OCT. Até ela… QUEST. Até — OCT. (corrigindo-se.) Até o Duque. Vem, partamos. [Conforme a tradução inglesa de Coleridge.]

Otávio quis dizer ‘até ele’, ao Duque. Comete, porém, um lapso de língua e, dizendo ‘até ela’ ao menos revela a nós que reconheceu claramente a influência que o jovem guerreiro causou em um entusiasta da paz (Freud, 1996o, p. 45-48).

Wallestein

06/11/2025 00:00