Sonhos de uma noite de verão - 2ª referência

Masson, Jeffrey Moussaief (1986). Carta de 30 de janeiro de 1898. In A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess - 1887-1904. Rio de Janeiro: Imago.

A citação encontra-se no capítulo intitulado “Periodicidade e autoanálise”, conforme a divisão feita pelo editor das cartas, página 252. Nesta passagem, Freud compara o mecanismo da ficção às fantasias histéricas, utilizando-se da obra Os sofrimentos do jovem Werther (Goethe, 1777), a fim de sustentar uma espécie de ilustração de sua ideia. Ao final, cita uma passagem presente no Ato V, cena 1, de Sonho de uma noite de verão (Shakespeare, 1605), para concluir essa relação entre loucura e ficção:

O mecanismo da ficção é idêntico ao das fantasias histéricas. Para criar seu Werther, Goethe combinou algo que havia experimentado — o amor por Lotte Kastner — com algo que ouvira: o destino do jovem Jerusalém, que morreu cometendo suicídio. É provável que estivesse brincando com a idéia de se matar, e encontrou um ponto de contato nisso, identificando-se com Jerusalém, a quem emprestou uma motivação retirada de sua própria história de amor. Por meio dessa fantasia, protegeu-se das conseqüências de sua experiência. Portanto, Shakespeare estava certo ao justapor ficção e loucura (fine frenzy) (Masson, 1986, p. 252).

Há uma nota do editor com a explicação da fonte de onde Freud retirara a citação a Shakespeare:

As duas últimas palavras estão em inglês no original e foram retiradas do Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, Ato, 5, cena l: The poet’s eye, in a fine frenzy rolling Doth glance from heaven to earth, from earth to heaven: And, as imagination bodies forth The forms of things unknown, the poefs pen Turns them to schapes, and gives to airy nothing A local habitation and a name. Os olhos do poeta, em doce arrebatamento rolando, / Resvalam dos céus ò terra, da terra aos céus; / E enquanto a imaginação corporifica / De coisas ignoradas os contornos, a pena do poeta / Converte-as em formas e dá ao etéreo nada / Morada local e um nome. (Trad. livre) (Masson, 1986, p. 253).

Shakespeare, Sonhos de uma noite de verão

08/11/2025 00:00