Freud, Sigmund (1996tt). O mal-estar na civilização. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930[1929]).
A citação encontra-se em “O mal-estar na civilização” (1930 [1929]), seção III, página 100. Freud está tratando da oposição entre o mundo civilizado e o bárbaro. Aquele é munido de diversos utensílios capazes de modificar ou utilizar a natureza de modo a contribuir ou favorecer o avanço da humanidade. Uma das características da civilização, segundo Freud, é a capacidade de utilizar os recursos naturais, como rios e terras, em proveito da humanidade. Porém, a civilização também valoriza elementos que não necessariamente são úteis para si, pelo contrário, elementos que não tem nenhuma relação com a utilidade. A beleza, por exemplo, é um desses elementos. Outro destes elementos sem utilidade prática à civilização, mas amplamente valorizados por ela, é a limpeza. No período e local em que Shakespeare viveu, final do século XIV e início do XV, na Inglaterra, ainda não existiam mecanismos de saneamento ou noções de higiene que se desenvolveram junto com a medicina. O objetivo de Freud é destacar o quanto a limpeza está intimamente ligada à noção de avanço civilizatório.
Não concebemos uma cidade do interior da Inglaterra, na época de Shakespeare, como possuidora de um alto nível cultural, quando lemos que havia um grande monte de esterco em frente à casa de seu pai, Em Stratford; também ficamos indignados e chamamos de ‘bárbaro’ (o oposto de civilizado), quando nos deparamos com as veredas do Wiener Wald¹ cobertas de papéis velhos. A sujeira de qualquer espécie nos parece incompatível com a civilização (Freud, 11996tt, p. 100).
Shakespeare
08/11/2025 00:00