Freud, Sigmund (1996x). Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1922).
A citação encontra-se em “Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo” (1922), item A, página 232. Freud trata do segundo tipo de ciúme elencado por ele próprio: o projetado. Aquele que o sujeito, através do outro, vê seus próprios impulsos serem realizados. Freud recorre, então, ao canto de Desdêmona ao ciúme de Otelo.
O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimônio, só se mantém em face de tentações contínuas. Qualquer pessoa que negue essas tentações em si própria sentirá, não obstante, sua pressão tão fortemente que ficará contente em utilizar um mecanismo inconsciente para mitigar sua situação. Pode obter esse alívio — e, na verdade, a absolvição de sua consciência - se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade. Esse forte motivo pode então fazer uso do material perceptivo que revela os impulsos inconscientes do mesmo tipo no companheiro e o sujeito pode justificar-se com a reflexão de o outro provavelmente não ser bem melhor que ele próprio¹.
¹ Cf. a canção de Desdêmona (Otelo, IV, 3): Chamei meu amor de falso, mas o que disse ele então? Se eu cortejar mais mulheres, deitar-te-ás com mais homens (Freud, 1996x, p. 232).
Shakespeare, Otelo
08/11/2025 00:00