O sonho de Cassandra

Com o que sonha Cassandra?

Há no filme O sonho de Cassandra, de Woody Allen (EUA, 2007) um diálogo entre os irmãos Terry e Ian no qual, após terem cometido o crime encomendado pelo tio materno de ambos, um diz ao outro: “Pensávamos que não tínhamos alternativa, mas tínhamos”[1].
Talvez resida nesse ponto o cerne e o equívoco da questão: alternativa não é escolha. Alternativa é sempre entre uma coisa e outra, visando a melhor opção; ou seja, encontra-se referida a um (ao) bem. Isto ou aquilo? Como saber qual é a melhor alternativa? – dúvida hamletiana que se não paralisa o sujeito, empurra-o na direção de uma solução de compromisso regida pelo princípio de prazer, assim como pelo ideal de bem. Já escolha é decisão, precipitar-se em uma antecipação cujo efeito se constitui, a posteriori, como causa – trata-se, portanto, de ato.

Impossível não evocar a posição da heroína trágica Antígona em sua referência às leis divinas e não escritas que zelam pelo genos, a linhagem; portanto, pelo laço que a une ao cadáver do irmão a quem presta as honras fúnebres, em contraponto ao conluio estabelecido entre os irmãos ingleses e o tio que “fez a América”. Este se efetiva em nome de uma suposta lealdade familiar (“Family is family, blood is blood”, diz Howard aos sobrinhos) e, uma vez celebrado. coloca os protagonistas do filme à margem da lei. É o império do serviço dos bens ferozmente defendido por este novo Creonte - no dizer de Lacan, o representante avant la lettre de uma razão prática que se declina, nos tempos que correm, por meio de um pragmatismo acéfalo e amoral.

[1] No original, o termo utilizado é choice, alternativa, e também escolha. 


O texto completo você pode ler no PDF anexo.

https://psicanaliseliteratura.capile.net/arquivos/o-sonho-de-cassandra.pdf

Woody Allen

Woody Allen

Policial, Drama, Suspense

Reino Unido, Estados Unidos, França

108 minutos

Cinema