Freud, Sigmund (1996h). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. X. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1909).
A citação encontra-se em “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos” (1905), no capítulo intitulado “Discussão”. Neste trecho Freud se refere ao “medo” em que se acreditava ter em trazer à tona os complexos presentes nas crianças. Segundo Freud, fazê-lo não teve como resultado uma ação “desviante” com relação aos seus pais, mas, ao contrário, resultou no tratamento destas questões pela palavra e a dissolução de alguns sintomas que acometiam menino. Utiliza-se de uma citação da peça shakespeariana Muito barulho por nada (1598-1599) em que um personagem fala aos guardas para que não se aproximassem dos ladrões numa analogia àqueles que falam para os médicos não se aproximarem dos conteúdos de uma neurose.
Mas preciso, agora, inquirir que mal foi feito a Hans para trazer à luz nele complexos tais como os que são não apenas reprimidos pelas crianças, mas temidos por seus pais. O menininho chegou a empreender alguma ação séria no que se refere ao que ele queria da sua mãe? Ou suas más intenções contra seu pai deram lugar a feitos maldosos? Tais pressentimentos terão, sem dúvida, ocorrido a muitos médicos, que não entendem a natureza da psicanálise e pensam que os instintos maus são fortalecidos por se tornarem conscientes. Os homens sábios como estes não estão sendo mais que convenientes quando nos imploram pelo amor de Deus que não nos metamos com as coisas ruins que se escondem por trás de uma neurose. Ao fazê-lo, esquecem-se, é verdade, de que são médicos, e suas palavras mostram uma semelhança fatal com as de Dogberry, quando aconselhou os guardas a evitarem todo contato com quaisquer ladrões que pudessem vir a encontrar: ‘pois com tal tipo de homens, quanto menos vocês se misturarem ou concordarem com eles, tanto melhor para sua honestidade.’[1] ( Freud, 1996h, p.)
Nota de rodapé 1: [Much ado about nothing, III, 3.] Nesse ponto não posso deixar para trás uma pergunta surpreendente. Onde meus oponentes obtêm seu conhecimento, mostrado com tanta confiança, sobre a questão dos instintos sexuais reprimidos desempenharem um papel e, sendo assim, que papel, na etiologia das neuroses, se eles calam a boca dos seus pacientes logo que estes começam a falar dos seus complexos ou dos derivados destes? Pois a única fonte alternativa de conhecimento que permanece aberta para eles são meus próprios escritos e os dos que aderiram a mim (Freud, 1996h, p.).
Shakespeare, Muito barulho por nada
08/11/2025 00:00