Hamlet - 31ª referência

Freud, Sigmund (1996uuu). Personagens psicopáticos no palco. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. VII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1942 [1905 ou 1906]).

A citação encontra-se em “Personagens psicopáticos no palco” (1942 [1905 ou 1906]), páginas 295-296. A citação aborda os dramas modernos.

[...] o drama psicológico se converte em psicopatológico, quando a fonte de sofrimento de que deveríamos participar e extrair prazer já não é o conflito entre duas moções dotadas de consciência quase igual, mas entre um impulso consciente e uma moção recalcada [...].

[...]

O primeiro desses dramas modernos é Hamlet. Seu tema é a maneira como um homem até então normal torna-se neurótico devido à natureza particular da tarefa com que se defronta, ou seja, um homem em quem uma moção até ali recalcada com êxito esforça-se por se impor. Hamlet distingue-se por três características que parecem importantes para a questão de que estamos tratando: (1) o herói não é um psicopata, transformando-se em tal apenas no decorrer da ação. (2) A moção recalcada figura entre as que são igualmente recalcadas em todos nós; seu recalcamento faz parte das bases de nosso desenvolvimento pessoal, e é justamente ele que a situação [da peça] vem contestar. Essas duas características facilitam que nos reconheçamos no herói [...] (3) Mas parece precondição desse modelo artístico que a moção que luta por chegar à consciência [...] não seja chamada por seu próprio nome; assim, o processo consuma-se de novo no espectador, com sua atenção distraída, e ele se torna presa de sentimentos. [...] Poupa-se, desse modo, sem dúvida, uma certa dose de resistência [...]. Em Hamlet, de fato, o conflito está tão oculto que coube a mim desvendá-lo” (Freud, 1996uuu, p. 295-296).

Shakespeare, Hamlet

08/11/2025 00:00