Hamlet - 13ª referência

Freud, Sigmund (1996qqq). Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. IX. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1907[1906]).

A citação encontra-se em “Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen” (1907 [1906]), na página 27. Freud trata da novela Gradiva, de Jensen, mais precisamente, no momento desta em que o personagem principal vê quem ele acredita ser a Gradiva, uma escultura a qual admirava e estudava. Freud compara a aparição de Gradiva a trechos das peças shakespearianas, Macbeth e Hamlet, nas quais os personagens-títulos vêem aparições. Em Macbeth, trata-se de alucinações. Em Hamlet, a aparição do espectro de seu pai morto, um “fantasma da meia-noite”, para parafrasear Freud.

Nesse ponto a tensão em que até agora nos mantém o autor transforma-se por um momento numa dolorosa perplexidade. Evidentemente não foi só o nosso herói quem perdeu o equilíbrio. Também ficamos desorientados com o aparecimento de Gradiva, que de uma figura em mármore já passara a figura imaginária. Acaso seria ela uma alucinação do nosso herói, perturbado por seus delírios, ou seria um ‘verdadeiro’ fantasma, ou ainda uma pessoa viva? Não se quer dizer com isso que precisemos acreditar em fantasmas. O autor, que rotulou de ‘fantasia’ sua obra, ainda não nos informou se pretende deixar-nos dentro do nosso mundo, desse prosaico mundo governado pelas leis da ciência, ou se pretende transportar-nos a um outro mundo imaginário, no qual se concede realidade aos espíritos e fantasmas. Estamos preparados para segui-lo sem hesitações, como nos exemplos de Hamlet e Macbeth, e nesse caso encararíamos por outro prisma o delírio do imaginativo arqueólogo. Na verdade, ao considerarmos quão improvável é a existência de uma pessoa real que seja a imagem viva de uma escultura antiga, as hipóteses reduzem-se a duas: uma alucinação ou um fantasma do meio-dia (Freud, 1996qqq, p. 27).

Shakespeare, Hamlet

08/11/2025 00:00