Freud, Sigmund (1996ggg). Análise terminável e interminável. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1937).
A citação encontra-se no artigo “Análise terminável e interminável” (1937), página 238. Nesta citação, Freud busca esclarecer alguns termos referentes a sua teoria da clínica. Mais especificamente, ao que a teoria se refere quando concebe um apaziguamento do conflito entre o eu e uma pulsão. Para Freud, isto só pode ser compreendido em termo metapsicológicos, o qual ele associa com as bruxas da peça de Goethe, Fausto. Estas bruxas exercem um papel muito específico na peça. Elas são responsáveis pelo preparo da poção capaz de restituir a juventude e vigor de Fausto.
A primeira de nossas questões, [p. 239] foi: ‘É possível, mediante a terapia analítica, livrar-se de um conflito entre um instinto e o ego, ou de uma exigência instintual patogênica ao ego, de modo permanente e definitivo?’ Para evitar a má compreensão é necessário, talvez, explicar mais exatamente o que se quer dizer por ‘livrar-se permanentemente de uma exigência instintual’. Certamente não é ‘fazer-se com que a exigência desapareça, de modo que nada mais se ouça dela novamente’. Isso em geral é impossível, e tampouco, de modo algum, é de se desejar. Queremos dizer outra coisa, algo que pode ser grosseiramente descrito como um ‘amansamento’ do instinto. Isso equivale a dizer que o instinto é colocado completamente em harmonia com o ego, torna-se acessível a todas as influências das outras tendências neste último e não mais busca seguir seu independente caminho para a satisfação. Se nos perguntarem por quais métodos e meios esse resultado é alcançado, não será fácil achar uma resposta. Podemos apenas dizer: ‘So muss denn doch die Hexe dran!’¹ - a Metapsicologia da Feiticeira. Sem especulação e teorização metapsicológica - quase disse ‘fantasiar’ -, não daremos outro passo à frente. Infelizmente, aqui como alhures, o que a Feiticeira nos revela não é muito claro nem muito minucioso. Temos apenas uma única pista para começar - embora seja uma pista do mais alto valor -, a saber, a antítese entre o processo primário e o secundário, e é para essa antítese que me voltarei neste ponto.
Nota de rodapé 1 [‘Temos de chamar a Bruxa em nosso auxílio, afinal de contas!’ Goethe, Fausto, Parte I, Cena 6. Fausto, em busca do segredo da juventude, busca de má vontade o auxílio da Bruxa] (Freud, 1996ggg, p. 238).
Goethe, Fausto
10/11/2025 00:00