Freud, Sigmund (1996t). Além do princípio do prazer. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1926).
A citação encontra-se em “Além do princípio do prazer” (1920) no capítulo V, página 52. Freud encontra na fala de Mefistófeles aquilo que seria uma das características principais da pulsão: sua força constante. Impossibilitado de satisfazer a pulsão, em decorrência da ação do recalque, existe sempre um déficit entre o prazer exigido e conseguido. Essa diferença é o motor da incessante procura do objeto que possa satisfazer a pulsão.
Pode também ser difícil, para muitos de nós, abandonar a crença de que existe em ação nos seres humanos um instinto para a perfeição, instinto que os trouxe a seu atual alto nível de realização intelectual e sublimação ética, e do qual se pode esperar que zele pelo seu desenvolvimento em super-homens. Não tenho fé, contudo, na existência de tal instinto interno e não posso perceber por que essa ilusão benévola deva ser conservada. A evolução atual dos seres humanos não exige, segundo me parece, uma explicação diferente da dos animais. Aquilo que, numa minoria de indivíduos humanos, parece ser um impulso incansável no sentido de maior perfeição, pode ser facilmente compreendido como resultado da repressão instintual em que se baseia tudo o que é mais precioso na civilização humana. O instinto reprimido nunca deixa de esforçar-se em busca da satisfação completa, que consistiria na repetição de uma experiência primária de satisfação. Formações reativas e substitutivas, bem como sublimações, não bastarão para remover a tensão persistente do instinto reprimido, sendo que a diferença de quantidade entre o prazer da satisfação que é exigida e a que é realmente conseguida, é que fornece o fator impulsionador que não permite qualquer parada em nenhuma das posições alcançadas, mas, nas palavras do poeta, ‘ungebändigt immer vorwärts dringt‘ (pressiona sempre para a frente, indomado, Fausto, parte I, cena 4). O caminho para trás que conduz à satisfação completa acha-se, via de regra, obstruído pelas resistências que mantêm as repressões, de maneira que não há alternativa senão avançar na direção em que o crescimento ainda se acha livre, embora sem perspectiva de levar o processo a uma conclusão ou de ser capaz de atingir o objetivo. Os processos envolvidos na formação de uma fobia neurótica, que nada mais é do que uma tentativa de fuga da satisfação de um instinto, apresentam-nos um modelo do modo de origem desse suposto ‘instinto para a perfeição’, o qual não tem possibilidades de ser atribuído a todos os seres humanos. Na verdade, as condições dinâmicas para o seu desenvolvimento estão universalmente presentes, mas apenas em raros casos a situação econômica parece favorecer a produção do fenômeno (Freud, 1996t, p. 52, grifos do autor).
Goethe, Fausto
10/11/2025 00:00