Freud, Sigmund (1996ddd). O estranho. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XVII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1919).
A citação se encontra em “O Estranho” (1919), capítulo II, página 260. Neste trecho, Freud trata da atribuição de poderes sobrenaturais ao outro. Capazes, inclusive, de influenciar negativamente a vida de alguém. Relação que já aponta para a estranha dimensão que o sujeito tem com o outro, em última instância, com sua própria imagem.
[...] O animismo, a magia e a bruxaria, a onipotência dos pensamentos, a atitude do homem para com a morte, a repetição involuntária e o complexo de castração compreendem praticamente todos os fatores que transformam algo assustador em algo estranho.
Também podemos falar de uma pessoa viva como estranha, e o fazemos quando lhe atribuímos intenções maldosas. Mas não é tudo; além disso, devemos sentir que suas intenções de nos prejudicar serão levadas a cabo com o auxílio de poderes especiais. Um bom exemplo disso é o ‘Gettatore’, aquela estranha figura de superstição romântica que Schaeffer, com sentimento poético intuitivo e profunda compreensão psicanalítica, transformou em personagem simpática no seu Josef Montfort. Mas a questão desses poderes secretos leva-nos outra vez de volta ao reino do animismo. A piedosa Grethen tinha a intuição de que Mefistófeles possuía poderes secretos dessa natureza que o tornaram tão estranho para ela.”
Sie fühlt dass Ich ganz sicher ein Genie, Vielleicht sogar der Teufel bin.* Fausto, Parte I, cena 16 [Freud, 1996ddd, p. 260]
*(Ela sente que decerto agora eu sou um gênio, Talvez na verdade o próprio demônio!).
Goethe, Fausto
10/11/2025 00:00