Freud, Sigmund (1996qq). Esboço de psicanálise. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1940[1938]).
A citação encontra-se em “Esboço de psicanálise” (1940 [1938]), parte II - “O trabalho prático”, capítulo VII, intitulado “Um exemplo de trabalho psicanalítico”, página 203. Freud, em seu habitual estilo de pressupor um debate com um interlocutor, levanta o possível questionamento de que a peça sofocliana, Édipo Rei, pode não ser considerada uma referência válida para fundamentar a existência do complexo de Édipo, pois seu personagem principal realiza o parricídio e o incesto sem sabê-lo. Porém, é justamente neste não saber de sua ação que Freud reconhecerá a potência da peça. É justamente desta condição de não querer saber de seus desejos edípicos que o neurótico sofre.
Pode-se ouvir objetar, por exemplo, que a lenda do rei Édipo não tem de fato nenhuma conexão com a construção feita pela análise: os casos são inteiramente diferentes, visto Édipo não saber que o homem a quem matara era seu pai e a mulher com que casara era sua mãe. O que não se leva em conta aí é que uma deformação desse tipo é inevitável se se faz uma tentativa de manejo poético do material, e que não há introdução de material estranho, mas apenas um emprego hábil dos fatores apresentados pelo tema. A ignorância de Édipo constitui representação legítima do estado inconsciente em que, para os adultos, toda a experiência caiu, e a força coercitiva do oráculo, que torna ou deveria tornar inocente o herói, é um reconhecimento da inevitabilidade do destino que condenou todo filho a passar pelo complexo de Édipo (Freud, 1996qq, p. 203).
Édipo Rei
06/11/2025 00:00