Complexo de Édipo - 2ª referência

Masson, Jeffrey Moussaief. (1986). Carta de 15 de outubro de 1897. In A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887 - 1904. Rio de Janeiro: Imago.

A citação encontra-se no capítulo intitulado “A teoria transformada”, conforme a divisão feita pelo editor das cartas, página 273. Nesta, Freud trata do reconhecimento de si mesmo na tragédia de Édipo Rei, de Sófocles, isto é, desenvolve a ideia de que os crimes de Édipo (incesto e parricídio) dizem respeito a algo íntimo constituinte da psique humana.

Descobri, também em meu próprio caso, |o fenômeno de| me apaixonar por mamãe e ter ciúme de papai, e agora o considero um acontecimento universal do início da infância, mesmo que não |ocorra| tão cedo quanto nas crianças que se tornam histéricas. (Semelhante à inversão da filiação |romance familiar| na paranóia — heróis criadores da religião.). Se assim for, podemos entender o poder de atração do Oedipus Rex, a despeito de todas as objeções que a razão levanta contra a pressuposição do destino; e podemos entender porque o “teatro da fatalidade” estava destinado a fracassar tão lastimavelmente. Nossos sentimentos se rebelam contra qualquer compulsão arbitrária individual, como se pressupõe em Die Ahnfrau e similares; mas a lenda grega capta uma compulsão que todos reconhecem, pois cada um pressente sua existência em si mesmo. Cada pessoa da platéia foi, um dia, um Édipo em potencial na fantasia, e cada uma recua, horrorizada, diante da realização de sonho ali transplantada para a realidade, com toda a carga de recalcamento que separa seu estado infantil do estado atual (Masson, 1986, p. 273).

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