Epílogo do cântigo do sino - 1ª referência

Freud, Sigmund (1996c). A interpretação dos sonhos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. V. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1900).

A citação encontra-se em “A interpretação dos sonhos” no capítulo VI, intitulado “O trabalho do sonho, seção (G) - Sonhos absurdos - atividade intelectual nos sonhos”, subseção II, página 461. Freud utiliza-se desta citação em associação a um sonho que tivera após a morte de seu pai, em 1896. O sonho apresentava seu pai rodeado de uma multidão de pessoas, ocupando um papel político no Reichstag.

Que poderia ser mais absurdo do que isso? Foi um sonho ocorrido numa época em que os húngaros tinham sido arrastados pela obstrução parlamentar para um estado de ilegalidade e mergulhado na crise da qual foram salvos por Koloman Széll. O detalhe trivial de a cena do sonho aparecer em imagens de tamanho tão diminuto não deixou de ter importância para sua interpretação. Nossos pensamentos oníricos costumam ser representados em imagens visuais que parecem ter mais ou menos o tamanho natural. A imagem que eu via em meu sonho, contudo, era a reprodução de uma xilogravura inserida numa história ilustrada da Áustria, que exibia Maria Teresa no Reichstag [Dieta] de Pressburg no famoso episódio de “Moriamur pro rege nostro”. Tal como Maria Teresa na fotografia, meu pai, no sonho, estava cercado pela multidão. Mas ele estava de pé sobre uma ou duas cadeiras [“cadeira” = “Stuhl”]. Ele os tinha reunido e, portanto, era um juiz-presidente [“Stuhlrichter”, literalmente, “Juiz de cadeira”.] (Um elo de ligação foi proporcionado pela expressão [alemã] coloquial “não precisaremos de nenhum juiz”.) - Os que o estávamos rodeando havíamos de fato observado como meu pai se parecia, em seu leito de morte, com Garibaldi. Ele tivera uma elevação de temperatura post-mortem, ficando suas maçãs do rosto enrubescidas e cada vez mais vermelhas… Ao recordar isso, meus pensamentos prosseguiram involuntariamente:

Und hinter ihm in wesenlosem Scheine Lag, was uns alle bändigt, das Gemeine

(Freud, 1996c, p. 461, grifos do original).

Há uma nota do editor com a tradução dos versos citados por Freud:

["Através dele, ilusão fugaz, jaz o que nos prende a todos em servidão - as coisas comuns"] (Strachey, 1996c, p. 461).

Goethe, Epílogo de Lied von der Glocke

10/11/2025 00:00