Referências ao autor - 17ª referência

Freud, Sigmund (1996ll). Dostoiévski e o parricídio. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1928[1927]).

A citação encontra-se em “Dostoievski e o parricídio” (1928[1927]), página 200. Refere-se ao circuito de auto-punição realizado por Dostoiévski. O autor russo retornava incessantemente à mesa de jogo e, após ter perdido, retornava para casa para se humilhar diante da sua mulher. Isto se repetia até Dostoiévski ter perdido todos os seus bens. Nesta repetição, Freud infere a satisfação inconsciente implicada no sintoma de Dostoiévski, pois, deste modo, o autor podia se auto-punir e satisfazer o seu sentimento inconsciente de culpa.

Ele nunca descansava antes de ter perdido tudo. Para ele, o jogo era também um método de autopunição. Seguidamente fez à sua jovem esposa a promessa, ou deu-lhe sua palavra de honra, de não jogar mais ou de não jogar mais naquele dia específico, e, informa ela, quase sempre as rompeu. Quando suas perdas os reduziam à mais extrema necessidade, extraía disso uma segunda satisfação patológica. Podia então censurar-se e humilhar-se diante dela, convidá-la a desprezá-lo e a se lamentar por se ter casado com um velho pecador; quando havia assim aliviado sua consciência, recomeçava tudo no dia seguinte. A jovem esposa se acostumou a esse ciclo, porque observara que a única coisa que oferecia qualquer esperança real de salvação - a produção literária dele - nunca ia tão bem como quando perdiam tudo e empenhavam suas últimas posses. Naturalmente, ela não compreendia a conexão (Freud, 1996ll, p. 200).

Literatura, Dostoiévski