A realidade psíquica segundo Sigmund Freud e suas implicações no tratamento psicanalítico

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob orientação da Profª. Drª. Ingrid Vorsatz.

A presente dissertação de mestrado objetiva problematizar a noção de realidade psíquica introduzida por Sigmund Freud e discutir suas implicações no tratamento psicanalítico. Orientados por Lo Bianco, compreendemos que é por meio da consulta às obras e artigos escritos por Freud, Lacan e outros autores do campo que buscamos circunscrever os conceitos em psicanálise, procedimento que com frequência é entendido como uma revisão bibliográfica extensa. No entanto, a metodologia adotada não se trata de reproduzir as considerações realizadas pelos autores, mas, sim, interrogá-las, examinar a construção dos conceitos e suas origens e, sobretudo, reconhecer que estes não são construídos de forma arbitrária. O conceito de realidade psíquica tem sua origem relacionada ao abandono da teoria da sedução, segundo a qual a etiologia da histeria estaria associada a experiências sexuais precoces ocorridas na infância com uma criança mais velha ou um adulto, geralmente o pai. No entanto, constata que seria impossível que em todos os casos de histeria o pai fosse um perverso; se assim fosse, as perversões deveriam ocorrer em maior escala. Posteriormente, Freud afirma que há uma realidade psíquica, distinta da chamada realidade material. Freud conclui que, embora a realidade material tenha sua importância, a realidade psíquica é decisiva para o tratamento psicanalítico. A fantasia é um conceito fundamental no que diz respeito a esta problemática, uma vez que ela é correlata à realidade psíquica. No artigo “O poeta e o fantasiar”, de 1908, Freud estabelece uma analogia entre o brincar da criança e o fantasiar na fase adulta, de modo que a fantasia diria respeito à realidade psíquica, não à realidade material. É importante destacar duas designações distintas do termo ‘realidade’ no idioma alemão e utilizadas por Freud, a saber, Realität e Wirklichkeit. O primeiro tem sua origem na palavra latina res, que foi utilizada pelo pensamento medieval e por Descartes em expressões como res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa); assim, Realität diz respeito à realidade como coisa, se refere à noção de realidade externa ou material. A segunda designação tem relação com a palavra grega physis, que tem origem verbal cujo significado é “fazer surgir” ou “produzir”. Freud usa com frequência ambos os termos alemães, o que parece indicar-nos que não há uma oposição conceitual clara entre as duas realidades; ou seja, a realidade psíquica não é outra realidade, mas, sim, a própria realidade operante do sistema inconsciente, que produz efeitos sobre o sujeito. O conceito de realidade psíquica implica a constituição de direção de trabalho e escuta clínica que compõem a prática da psicanálise. A fim de identificar e discutir os elementos clínicos que a realidade psíquica implica, apresentamos os casos de histeria da Anna O. - que, embora não tenha sido paciente de Freud, é um célebre caso que apresenta elementos clínicos fundamentais para a presente discussão -, Elisabeth von R. e Dora. Destaca-se que a realidade psíquica é a realidade operante no sistema inconsciente, que implica um sujeito dividido subjetivamente. Justamente por considerar essa divisão, Freud pôde fundar uma teoria da clínica psicanalítica.

PEREIRA, Arthur Teixeira. A realidade psíquica segundo Sigmund Freud e suas implicações no tratamento psicanalítico. 2023. 79 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) – Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.

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Realidade psíquica, Fantasia, Psicanálise, Clínica