Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob orientação da Profª. Drª. Ingrid Vorsatz.
Com a chegada da pandemia de COVID-19 no Brasil no início do ano de 2020, os atendimentos psicoterápicos realizados virtualmente ganharam maior visibilidade devido à necessidade de distanciamento físico e social preconizada pelas autoridades sanitárias nacionais e mundial, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em pouco tempo, os psicanalistas foram levados a adotar essa nova modalidade, mesmo que a referida prática fosse incomum ao campo e em sua literatura inexistissem diretrizes para a sua realização. Devido a consequências externas, os psicanalistas aderiram a modalidade virtual como única forma possível de manter os atendimentos clínicos aos pacientes. Se durante a pandemia de COVID-19 os atendimentos virtuais consistiam a única opção, hoje é preciso considerar as suas implicações sobre a própria clínica, pois o uso massivo – e muitas vezes irrefletido – dos atendimentos online está sendo aparentemente naturalizado, tanto por alguns psicanalistas quanto pelos pacientes. No que tange a essa naturalização, cabe investigar se há viabilidade para a adoção do atendimento online, considerando que na clínica psicanalítica inexistem diretrizes para isso, sendo esta realizada presencialmente, em consultório. Nesse sentido, a presente dissertação tem como objetivo investigar a possibilidade da sustentação da prática clínica psicanalítica, tal qual postulada por Sigmund Freud, no ambiente virtual. Para tanto, foram realizados um levantamento e uma revisão da literatura específica sobre as produções científicas resultantes dos atendimentos psicanalíticos online durante a pandemia, publicadas entre os anos de 2020 e 2022, no Brasil, a fim de apresentar e problematizar as mudanças oriundas desta nova modalidade de prática clínica, advindas do contexto pandêmico. Também foi realizada uma revisão bibliográfica crítica referente aos artigos freudianos sobre a técnica, entre outros artigos de Freud que tratam da prática clínica do psicanalista. Tornou-se fundamental problematizar a discussão presente nos artigos sobre atendimentos virtuais, durante o referido período, cotejando-os com a fundamentação teórico-conceitual, efetuada por Freud acerca do dispositivo analítico e de suas exigências internas. Os achados revelam que há obstáculos à sustentação da prática psicanalítica, na modalidade virtual, tal qual estabelecida por Freud, e que as modificações empreendidas pelos psicanalistas durante o período pandêmico não foram suficientes para superar tais obstáculos, o que leva à conclusão de que o tratamento psicanalítico seja realizado de forma presencial, preferencialmente, e que o atendimento virtual seja adotado apenas em casos excepcionais.
LEMOS, Jade Vellinha. A pandemia de COVID-19 e a clínica: é possível sustentar a prática clínica em psicanálise na modalidade online?. 2023. 89 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) - Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
https://psicanaliseliteratura.capile.net/arquivos/jade-vellinha-lemos-2023.pdf
COVID 19, Clínica psicanalítica online, Atendimento psicanalítico virtual