A função da escrita na psicose: considerações a partir de testemunhos da literatura

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob orientação da Profª. Drª. Ingrid Vorsatz.

O presente trabalho tem como objetivo investigar a função da escrita na clínica psicanalítica das psicoses. Para tanto, partimos de uma revisão bibliográfica das obras de Sigmund Freud e de Jacques Lacan relacionadas ao tema. Além disso, foi realizado um levantamento de artigos científicos em bases de dados como o Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), Scielo, e a plataforma de busca Google Acadêmico, por meio dos descritores “clínica da psicose” e “escrita”. Enquanto uma questão clínica, consideramos que o seu encaminhamento ocorre a cada caso. Portanto, partimos da análise de testemunhos de autores considerados psicóticos, a fim de circunscrever a possível função da escrita para eles. Realizamos uma breve análise dos seguintes escritos: Memórias de um doente dos nervos (1903), do jurista alemão Daniel Paul Schreber, do memorial do jovem francês Pierre Rivière, publicado pelo filósofo francês Michel Foucault sob o título Eu, Pierre Riviére, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão (1973) e das obras Todos os cachorros são azuis (2008) e O esquizoide: coração na boca (2011), ambas do escritor brasileiro Rodrigo de Souza Leão. Partimos da proposição freudiana de que o delírio é um trabalho psíquico que visa à cura, através da construção de uma espécie de remendo sobre uma ruptura com o mundo externo ocasionada pelo desencadeamento da psicose. Consideramos que a escrita pode servir ao trabalho do delírio, uma vez que nele o psicótico toma a palavra como material de reconstrução de sua relação com o mundo, a fim de torná-lo um lugar habitável. Nas referidas obras, foi possível identificar uma dimensão de endereçamento na escrita, no que podemos reconhecer certo apelo do sujeito, seja de mediação em relação a uma alteridade absoluta que o invade, seja de validação de si e da sua palavra. Concluímos que a escrita na psicose pode ter a função de organização e de apaziguamento das invasões experienciadas pelo sujeito, além de ser um meio de inscrição da sua palavra, o que requer uma avaliação a cada caso.

Psicanálise, Clínica das psicoses, Escrita