Quatro minutos

O instante de olhar

Gertrude Krüger é uma mulher idosa e amarga, que por anos a fio se dedicara à inglória tarefa de lecionar piano para as detentas de uma penitenciária feminina. Durante a missa em memória de uma prisioneira que havia se enforcado, toca em sua homenagem no órgão da capela, quando vê refletida na superfície espelhada à sua frente as mãos de uma prisioneira recém-chegada, dedilhando a melodia. Reconhece, de imediato, o inequívoco talento da jovem.

É assim, de forma oblíqua, que acontece o encontro entre essas duas mulheres, de resto estranhas uma à outra. Um encontro que se dá a contrapelo da empatia ou ainda da solidariedade, na radicalidade da diferença. Doravante, estarão lado a lado, sem se olharem de frente, exceto no final. Mas aí se tratará de Outra coisa.

Jenny von Loeben fora uma criança-prodígio, tomada como objeto por seu pai adotivo, que além de explorar seu talento precoce ao piano – à semelhança do pai de Mozart - também se servira sexualmente da menina.

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