Freud, Sigmund (1996ppp). Sobre a Psicoterapia. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. VII. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1906 [1904]).
A citação encontra-se em “Sobre a psicoterapia” (1906[1904]), item (b), página 248. Precede um parágrafo em que Freud relata sobre muitos médicos que “exercem” a psicanálise sem estudá-la, como se “a coisa fosse perfeitamente inteligível por si só” (nas palavras de Freud). Assim, ele se utiliza do trecho de Hamlet para ilustrar essa tentativa desses médicos de tocar o instrumento anímico sem antes estudá-lo.
É que o instrumento anímico não é assim tão fácil de tocar. Nessas ocasiões, não posso deixar de pensar nas palavras de um neurótico mundialmente famoso, que decerto nunca esteve em tratamento com um médico, pois viveu apenas na fantasia de um poeta. Refiro-me a Hamlet, Príncipe da Dinamarca. O Rei enviara dois cortesãos [...] para sondá-lo e arrancar dele o segredo de seu desgosto. Ele os repele; aparecem então algumas flautas no palco. Tomando uma delas, Hamlet pede a um de seus algozes que a toque, o que seria tão fácil quanto menti. O cortesão se recusa, pois não conhece o manejo do instrumento, e, não conseguindo persuadi-lo a tentar, Hamlet finalmente explode: ‘Pois vede agora em que mísera coisa me transformais! Quereis tocar-me, [...] quereis arrancar o cerne de meu mistério, [...] e embora haja muita música, excelente voz neste pequenino instrumento, não podeis fazê-lo falar. Pelo sangue de Cristo, julgais que sou mais fácil de tocar do que uma flauta? Chamai-me do instrumento que quiserdes, pois se podeis desafinar-me, ainda assim não me podeis tocar.’ (Ato III, Cena 2) (Freud, 1996ppp, p. 248, grifo do original).
Shakespeare, Hamlet
08/11/2025 00:00