Fausto - 17ª referência

Freud, Sigmund (1996c). A interpretação dos sonhos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. V. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1900).

A citação encontra-se em “A interpretação dos sonhos”, no capítulo VI, intitulado “O Trabalho dos sonhos”, seção (H) - “Os afetos nos sonhos” - subseção V, página 514. Freud cita a dedicatória ao Fausto de Goethe para referir-se a um amigo que muito lhe marcou. Para Freud, esta relação com este amigo marca também todas suas relações de amizade posteriores.

Minha ligeira raiva, no presente, pela advertência que eu recebera de não deixar escapar nada [sobre a doença de Fl.] recebeu reforços de fontes situadas nas profundezas de minha mente, e assim se avolumou numa corrente de sentimentos hostis contra pessoas de quem eu realmente gostava. A fonte desse reforço brotava de minha infância. Já assinalei como minhas amizades calorosas, e também minhas inimizades com contemporâneos, remontam a minhas relações da infância com um sobrinho que era um ano mais velho que eu; como ele era superior a mim, como cedo aprendi a me defender dele, como éramos amigos inseparáveis e como, de acordo com o testemunho dos mais velhos, às vezes brigávamos um com outro e… lhes fazíamos queixas um do outro. Todos os meus amigos têm sido, num certo sentido, reencarnações dessa primeira figura que “früh sich einst dem trüben Blick gezeigt”[nota 1]: têm sido revenants. Meu próprio sobrinho reapareceu em minha meninice e, nessa ocasião, representamos juntos os papéis de César e Brutus. Minha vida afetiva sempre insistiu em que eu tivesse um amigo íntimo e um inimigo odiado. Sempre me foi possível reabastecer-me de ambos, e não raro essa situação ideal da infância se reproduziu tão completamente que amigo e inimigo convergiram numa só pessoa - embora não, é claro, ambos ao mesmo tempo ou com oscilações constantes, como talvez tenha acontecido em minha tenra infância (Freud, 1996c, p. 514).

Há uma nota do editor com a tradução da citação feita por Freud:

[‘... há muito se mostrou ante meu turvo olhar’ (Goethe, Fausto, Dedicatória)] (Strachey, 1996c, p. 514).

Goethe, Fausto

10/11/2025 00:00