Complexo de Édipo - 86ª referência

A citação encontra-se no artigo “Esboço de psicanálise” (1940 [1938]), parte III “O rendimento teórico”, capítulo IX, intitulado “O mundo interno”, página 217. Nesta citação, Freud reconhece o descompasso que pode existir entre a influência severa do Supereu e a influência real dos pais. Sendo o Supereu uma instância herdeira da influência parental, era de se esperar que este fosse constituído pelos traços direto dos pais. A influência do Supereu, no entanto, está mais relacionado a defesa necessária para resistir a tentação do complexo de Édipo do que baseado em traços parentais homólogos aos da realidade.

É impressionante que o superego freqüentemente demonstre uma severidade para a qual nenhum modelo foi fornecido pelos pais reais, e, ademais, que chame o ego a prestar contas não apenas de suas ações, mas igualmente dos seus pensamentos e intenções não executadas, das quais o superego parece ter conhecimento. Isso nos lembra que o herói do mito de Édipo também sentia-se culpado pelas suas ações e submeteu-se à autopunição, embora a força coercitiva do oráculo devesse tê-lo isentado de culpa em nosso julgamento e no seu. O superego é, na verdade, herdeiro do complexo de Édipo e só se estabelece após a pessoa haver-se libertado desse complexo. Por essa razão, a sua excessiva severidade não segue um modelo real, mas corresponde à força da defesa utilizada contra a tentação do complexo de Édipo (Freud, 1996qq, p. 217).