A escuta do sujeito no campo da assistência social

O presente trabalho se propõe a verificar as possibilidades e os impasses de uma escuta referenciada pela psicanálise no campo da assistência social. Partindo da atuação do psicólogo em Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), visamos problematizar a escuta do sujeito de modo que as demandas sejam consideradas para além das urgências materiais e de sobrevivência. O CRAS é uma unidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que tem por objetivo a prevenção de situações de risco e de vulnerabilidade social por meio do acompanhamento sistemático das famílias cadastradas. No CRAS de Queimados – RJ, a maioria dos usuários cadastrados são mulheres solteiras, negras, entre 30 e 59 anos de idade, com mais de três filhos e com nível fundamental de escolaridade, sem renda ou emprego fixo. Nos relatos que endereçam à equipe podemos identificar questões de ordem subjetiva, tais como o luto pela perda de um ente querido, medo e ansiedade após ter de mudar de residência de forma repentina e cansaço extremo por criar filhos sozinhas e sem uma rede de apoio. Adotamos a metodologia de pesquisa qualitativa, executando uma análise do discurso dos usuários do serviço, por meio da leitura dos registros em sumário das falas destes a partir das noções de escuta e de sujeito presentes na teoria da clínica psicanalítica. Associada à compreensão da vivência desses usuários, também consideramos a proposição de que o neoliberalismo se associa ao sofrimento psíquico dos frequentadores dos CRAS, o que trataremos mediante a análise das possíveis relações entre sintoma psíquico e configuração social.